Don't vote at all
Watch Blog é um site 3 em 1: republicanos, democratas e independentes postam artigos defendendo suas posições e esculhambando a dos outros. Tudo numa relativa paz, embora a área de comentários seja bem agitada.
Uma das mais agitadas é a do Wasted votes, em que um independente reclama da mania que todo mundo tem de falar que quem não vota num dos dois partidões está jogando o voto no lixo. Até eu dei meus pitacos, falando bem do sistema eleitoral aqui no Brasil e deixando claro que não tinha nada que ficar me metendo. Um cara lá falou que se eu sou um americano vivendo no Brasil tenho que discutir o assunto sim, é dever cívico. Achei que tava implícito aí a idéia de que se eu sou um brasileiro vivendo no Brasil tenho mais é que calar a boca. Deixei quieto.
Mas enfim. Aí anteontem vi o Mainardi dizendo no Manhattan Connection que o eleitor independente é basicamente um cara que não está disposto a votar em nenhum dos dois grandes candidatos. Parece óbvio, e é, mas daí segue que não dá pra ficar culpando o Ralph Nader por derrotas dos democratas: quem vota naquele não votaria nestes, mesmo se não houvesse opção. O Mainardi está, é óbvio e como sempre, exagerando, mas alguma razão ele tem. Não é à toa que o autor do "Wasted votes" depois comentou seu próprio texto dizendo que escolher Bush ou Kerry é como escolher uma facada no coração ou um tiro na cabeça: o tempo que passamos agonizando pode mudar, mas a morte é certa.
E foi aí que lembrei de Eleição, filme de Alexander Payne ("As confissões de Schmidt") sobre as campanhas para o equivalente a um grêmio estudantil numa high school americana. Concorrem o ex-capitão do time de futebol (americano), a menina pentelha com currículo perfeito e uma lésbica mal amada. E na hora do discurso a lésbica chuta o balde. Essa eleição não serve pra nada. Só se interessa quem é eleito, pra colocar no currículo e entrar na faculdade. Tudo é sempre igual. Então votem em mim porque eu nem quero ir pra faculdade e a única coisa que vou fazer é acabar com a porra do grêmio. E aí a galera levanta e aplaude e grita. Ou não votem em mim, que se foda, don't vote at all. E aí a galera levanta e aplaude e grita, de novo, mas com mais intensidade. Não sei em que momento eles se sentaram. Milagres da montagem.
Nader - e os demais nanicos, tão nanicos que são nanicos mesmo comparados com o Nader - é a lésbica mal amada. Que no fundo tem razão: não interessa muito qual partidão vai ganhar. (Bom, normalmente não interessa muito: nesta eleição em particular, muita gente boa considera um imperativo que Bush saia da Casa Branca, e alguns independentes partem daí para explicar
por que votam em Kerry.) Para quem tem opiniões políticas muito extremadas, os democratas e os republicanos estão no centro demais para que seja possível distingui-los.
Esse texto pode estar parecendo uma análise chinfrim das eleições norte-americanas, mas não é - bom, é também, mas não principalmente. Esse texto é principalmente pra dizer que "Eleição" é melhor do que eu pensava. Sempre tinha visto o filme como uma grande sátira a processos eleitorais; só agora percebi que é também uma grande sátira a um processo específico. Pra se ver de novo.
1 Comments:
Oi amor,
As eleições já até passaram e não tenho nada pra dizer sobre esse assunto. Só fiquei com peninha de não ter nenhum comment no seu blog... (q aliás não deixa ng escrever um comment sem estar inscrito, um saco).
Beijos,
Cla
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