Thursday, January 20, 2005

Bauhaus Dazibaos Kierkegaard Kindergarten (Bauhaus Dazibaos)

Neste exato momento nada me daria mais prazer do que bolar uma história na qual um rei de um país africano determinava no começo do ano as palavras que os poetas da tribo poderiam usar aquele ano. As palavras tinham que ser só três, uma tradição que vinha lá dos fundos tempos e que ninguém nunca tinha perguntado por quê, coisa, aliás, que nessa tribo era considerada uma indelicadeza, tanto que era punida com a castração do testículo esquerdo do mal-educado.

Durante tempos e tempos, aquela tribo foi feliz com seus poetas que só diziam três palavras, combinando-as em todas as combinações possíveis. Os bons reis escolhiam palavras fáceis de combinar, "aurora", "amor" e "alegria, por exemplo. Naquele ano, os poemas iriam ser:

aurora
alegria
do amor

Ou:

amor
aurora
da alegria

Nem faltaria algum poeta mais ousado que arriscasse:

alegria
amor
da aurora

Nesse anos, o povo era feliz, a chuva vinha no tempo e na medida certa, a terra dava cem frutos por um e o povo era feliz junto com seus poetas.

Mas havia reis cruéis, reis que escolhiam palavras difíceis de combinar. Havia até um, na tradição, que tinha inflingido aos poetas do seu povo as palavras "inclusive", "quase" e "talvez". Triste ano foi aquele, parco de messes e ralo de poesia.

Depois desse tempo, veio a época dos reis fracos, reis que já não tinham a mesma força de autoridade dos reis de antigamente.

Os poetas conseguiram assim a vantagem de fazer poemas com mais palavras. Uma verdadeira festa o dia em que os poetas conseguiram o direito de fazer poemas com dez palavras.

Com o passar do tempo, os poetas foram aumentando o seu poder, fazendo poemas com cada vez mais palavras.

Até que um dia foi necessário admitir, dá pra fazer poesia com quantas palavras o poeta quiser.

Mas a poesia nunca foi tão boa quanto na época em que tinha que ser feita só com três palavras.

Paulo Leminski

2 Comments:

Blogger Werner Daumier-Smith said...

Sim, lembra Borges. E o final da história sugerido ficou bastante bom. Isso posto, parece também uma ode ao Hai Kai.

E sim, quem não se lembra desse maravilhoso discurso, segundo o orador proferido no congresso inglês.

4:55 AM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Não espraria outro recomendação sua. Bem, talvez um Sabato. Ou algum outro Argentino.

10:53 AM  

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