TVUAN X SPLHCB
Uma das numerosas qualidades do livro de Joe Harvard sobre o primeiro disco do Velvet Underground é a qualidade da pesquisa, com uma bela bibliografia e muitas notas de rodapé - Harvard chega a fazer um reproche algo vaidoso sobre a falta de referências às fontes originais em livros sobre rock. E é uma curta citação, cuja referência fico devendo, uma das partes mais interessantes do livro, comparando The Velvet Underground and Nico com Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. A idéia é que, apesar de lançados no mesmo ano, os dois discos parecem pertencer a eras distintas: enquanto o álbum dos Beatles ficou datado, o do Velvet pertence aos tempos atuais.
É claro que a afirmação pende para o lado pró-VU, mas na verdade não há julgamento de valor envolvido. Ser datado não é necessariamente um problema, especialmente se a intenção do artista é representar sua época. O vermelho e o negro é um livro datado, mas se não fosse perderia boa parte da sua graça, a parte que vem do retrato que faz da França pós-Napoleão. A fogueira das vaidades não tem nem vinte anos e já é datado: Tom Wolfe queria passar a atmosfera de Nova York do fim dos anos 80 para um romance e foi bem sucedido. Como advoga o Alexandre Cruz Almeida, temos que dar aos Beatles o benefício da dúvida (eles certamente fizeram por merecê-lo) e concluir que, se Sgt. Pepper's é datado, é porque a intenção era essa. E não é por ser datado que o disco deixa de ser ótimo.
Num post sobre o mesmo assunto, o Tija concorda com a citação e diz que o Velvet está no seu tempo hoje. Desconfio que, musicalmente, isso será sempre verdade. Em termos temáticos, eles já não são a banda ultrajante que eram, mas merecem muitos pontos pelo pioneirismo nas letras inteligentes sobre temas espinhosos. Joe Harvard diz tudo quando diz que hoje em dia é fácil escrever sobre comprar drogas na rua, injetar heroína ou servir de escravo para uma Venus in furs - mas em 1966, quando os Byrds tiveram problemas por causa de Eight miles high e McCartney não revelava a ninguém o nome da musa de Got to get you into my life, tinha que ter colhão.
4 Comments:
Meu caro amigo, 100% de acordo! Mas saia do muro e confesse: VU é melhor...
Ah, sim, caro colega Tony. Certamente VU é melhor. admito sem ressalvas, com a consciência limpa e a cabeça erguida.
Raquel, você já é co-autora daquele blog lá. Um crédito não seria de todo mal.
Discordo terminantemente. VU é tão datado quanto os Beatles.
Se eu tiver paciência eu posto um texto no blog defendendo essa idéia decentemente.
Herege!!!
Post a Comment
<< Home