A ajuda de Jimmy Carter
No Jornal das Dez, Globo News, ontem: o único problema mais grave registrado ao longo das eleições palestinas ocorreu quando alguns milhares de eleitores tiveram que esperar no posto de votação devido a [não lembro o quê]. Com a ajuda de Jimmy Carter, o problema foi resolvido.
Primeira imagem que vem à mente: um grupo de eleitores palestinos angustiados pela impossibilidade de participar de mais uma festa da democracia. A tensão aumenta no recinto, alguns impropérios em árabe (uma das melhores línguas do mundo para impropérios) são lançados, e quando parece que as coisas vão esquentar de vez alguém distingue uma forma difusa singrando os céus. É um passário? É um avião? Não, é Jimmy Carter! Ele explode pelo teto e aterrisa numa clareira aberta pelos palestinos embasbacados, que para dar espaço ao nosso herói tiveram que esmagar contra a parede alguns compatriotas, que já foram medicados e passam bem. Carter, terno, gravata e capa imaculados em meio ao entulho que ainda cai do teto, encosta os punhos fechados nos quadris e lança em voz altissonante: What's the catch, boys? Um palestino mais corajoso avança alguns passos na direção de JC e, num inglês com sotaque turco (atores palestinos estavam em falta), explica: We can't vote, Mr. Carter! JC olha para o alto com uma máscara metafórica de preocupação no rosto. Lads, it seems democracy's at stake here. Let's show 'em what we're made of! A multidão abre caminho para JC invadir a sala de votação, onde malignos terroristas árabes (ou soldados israelenses, escolha sua posição política) tomaram as urnas como reféns e ameaçam estourar seus miolos se Carter ou qualquer outro ariano decidir forçar as pérfidas instituições democráticas goela do Oriente Médio abaixo. The tyranny days are numbered, you damn fascists!, grita Carter pouco antes de cobrir seu corpo com a capa vermelha (combinando com a gravata) e girando em velocidade furacônica na direção dos apavorados terroristas, que largam as armas e ajoelham em reconhecimento da grandez norte-americana. C'mon, children, here's your ballot, here's your pen, let me stamp your hands, don't worry, it'll come off within two days, haha, the poor dumb boys, they wouldn't know two-day ink if it kicked 'em right in the nuts. Mas logo surge a imagem da águia no céu e JC tem que se encontrar com o comissário Gordon nalgum telhado imundo de Jerusálem Oriental. Not the ukranians again, I hope.
O que provavelmente aconteceu: Jimmy Carter salta do Mercedes preto com ar condicionado, sorrindo e olhando para todos os lados, apertando as mãos de palestinos confusos (alguns checam para ver se o bom homem não teria deixado um dólar entre seus dedos suados). So, is everything alright here? Why the comotion?, o grande homem pergunta, ao que responde um funcionário palestino, em seu carregado sotaque turco (é o mesmo ator, Mr. Carter é bem seletivo escolhas de elenco de apoio): There's a small problem, Mr. Carter, with the (não lembro o quê, já disse). Carter pisca duas vezes e sacode quase imperceptivelmente a cabeça: Oh, boy. I hope it's nothing serious. O funcionário palestino tranquiliza o ex-presidente americano, dizendo We got it under control, sir. These damn palestinians will have to wait a while, but they won't let this small incident affect their quest for democracy. Fine, responde Carter, fazendo uma mental note para demitir o coadjuvante que lhe roubou a frase de efeito. E sem se despedir dá as costas ao pobre rapaz, acena algumas vezes para os palestinos e retorna à Mercedes, cujo ar condicionado dá sinais de cansaço. Fucking germans.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home