A crítica ao autor e a crítica à obra
Outro problema são os críticos que centram sua análise sobre o autor e não sobre a obra. Às vezes, a prática gera artigos excelentes, como foi o caso de um texto do Mainardi do tempo em que se falava mal do Paulo Coelho. A comparação entre um dos livros do escritor (não lembro qual) e um par de meias sujas deixadas no banco da frente do carro era um achado. Mas, em geral, criticar o autor é uma dupla perda de tempo.
Primeiro, porque o autor não ganha nada. Se um artista lê um crítico dizendo que ele não sabe fazer o que faz, que ele é um artista ruim (e uma crítica ao autor, por mais elaborada, remonta a isso), o único conselho que ele pode extrair dali é que está na hora de se aposentar. A não ser que o artista tenha um ego minúsculo, o que seria um oxímoro, é implausível pensar que mesmo o mais respeitado dos críticos pudesse ter esse conselho acatado por mesmo o menos dotado dos indivíduos.
Segundo, o público também não ganha nada. Quem já conhece a obra do artista e a aprecia não deixará de fazê-lo por causa do crítico; quem já conhece a obra e não a aprecia não descobre nada de novo na crítica; e quem não conhecia a obra pode sentir curiosidade de conhecê-la, ou seja, termina fazendo o contrário do que o crítico está aconselhando. É a velha história da inexistência da publicidade ruim. Para um artista, nada pior do que ser esquecido. Se o crítico acha que é isso o que o artista merece, o melhor a fazer é calar a boca.
A crítica da obra, além de servir de um guia menos enfático ao público, é mais simpática ao artista. Se a crítica for realmente boa, ele vai reparar em aspectos da sua obra que lhe haviam passado despercebidos. Quanto às possíveis falhas apontadas pelo crítico, ele pode concordar ou discordar. Se concordar, terá a chance de se livrar dessas falhas em trabalhos futuros. Se discordar, terá uma idéia mais definida de o que é a sua obra e seu estilo. Saem todos ganhando.
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