Pessoas na piscina
Do meu trabalho, na torre do Rio Sul, pode-se ver o topo de vários prédios de duas ruas, a Lauro Müller e a Ramon Castilla. Minhas duas avós moravam na Lauro Müller; uma delas ainda mora, a outra morreu há pouco mais de um ano e agora minha tia vive no mesmo apartamento. Os prédios da rua são velhos, baixos, muitos não têm garagem e outros não têm vagas para todos os condôminos. Há uma briga grande e silenciosa entre os moradores da Lauro Müller e os trabalhadores do Rio Sul, poque os últimos, parando seus carros na rua, deixam os primeiros sem lugar para estacionar.
Já os prédios da Ramon Castilla são mais recentes e mais altos. A própria rua é um pouco mais elevada do que a Lauro Müller, embora daqui de cima a diferença de relevo não seja perceptível. Acho que todos os prédios da Ramon Castilla têm garagens, e alguns têm terraços com espreguiçadeiras e piscinas.
A não ser nos dias de chuva ou tempo muito ruim, quase sempre há alguém em pelo menos uma das piscinas da Ramon Castilla. E quando há uma pessoa quase sempre há outra: um casal de namorados, um grupinho de crianças, duas amigas conversando. A secretária da empresa me contou que uma vez viu um casal se agarrando ardentemente na piscina do prédio baixinho, o primeiro da rua olhando daqui. De vez em quando, há alguns solitários, deitados numa espreguiçadeira ou de braços apoiados na borda da piscina, a cabeça pendendo pra trás, pegando sol.
Acabei de dar uma olhada pela janela: apesar de o dia estar bem bonito, só uma das piscinas está ocupada. É de um dos últimos prédios da rua e as pessoas estavam dentro da piscina, então não pude vê-las muito bem. Mas, pelo tamanho, acho que são crianças.
É claro que dá inveja, especialmente nos dias mais quentes ou quando há mais trabalho. Mas em dias como este, em que está tudo calmo na empresa e daqui a menos de duas horas vai começar o fim de semana, dá pra se sentir feliz pelas pessoas que têm esse luxo esquisito que é uma piscina de condomínio. E dá também pra se admirar com a cativante cara-de-pau dessa gente que em vez de estudar, trabalhar ou fazer qualquer outra coisa de útil reserva uma ou duas horas do dia para subir ao topo do prédio, entrar na piscina, encostar na borda com os braços e jogar a cabeça pra trás.
1 Comments:
fiz isso hoje, lendo lobo antunes. é uma delicia... :)
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