Capa feia
Há coisa mais elegante do que os livros da coleção Folio? O nome do autor no canto superior esquerdo; um pouco abaixo, na mesma fonte em corpo maior, o título do livro; e abaixo deste uma foto, quase sempre muito bonita, ocupando todo o resto da capa, que tem fundo branco. Num canto inferior, o símbolo da editora: seu nome escrito em minúsculas, naquela mesma fonte usada para o nome do autor e o título do livro. A maior parte dos livros de bolso franceses seguem o mesmo esquema, mas a Folio é imbatível.
Por aqui temos duas coleções de livros de bolso dignas de nome (os livros antigos da Ediouro eram grandes demais; os da Paz e Terra, vagabundos demais), uma da L&PM e outra da Martin Claret. A editora gaúcha tem pockets bem cuidados e bonitinhos, mas abandonou o padrão de design do começo da coleção. A vantagem do padrão de design é que pode fazer completistas fanáticos feito eu querer a coleção inteira. Um sonho atual é ganhar na Mega Sena, viajar para Paris, bater na porta da Gallimard (ou ir numa FNAC da vida), apontar para o estoque de Folio e pedir "Um de cada, por favor".
Mas a ausência de padrão é o de menos, o problema da L&PM é o preço. O vermelho e o negro, do Stendhal, sai por 24 pratas. Mais vale gastar 52 e comprar a edição bonitona da Cosac & Naify (Côsac ou Cosác? Naifý ou Naífy? Voto nos primeiros.). Livro de bolso tem que custar dez dinheiros, estourando.
Sobra a Martin Claret, que lançou uma coleção com uma idéia simpática: A obra-prima de cada autor. Os livros continuam caros (os mais baratos que vi, sem considerar eventuais descontos, custam R$10,50; Crime e castigo sai por R$18,90), mas são em média mais baratos do que os da L&PM. Eles tinham uma mania inexplicável de fazer duas colunas de texto por página, mas nas últimas edições que olhei a loucura tinha passado. Clássicos em formato de bolso e preço acessível era a antiga proposta da Ediouro, e um nicho que imagino valer a exploração.
O problema são as capas. Os livros da Martin Claret tem um padrão de design, mas é o padrão da monstruosidade. Diversas imagens sobrepostas, desenhos canhestros, cores berrantes. Dói o coração ver um livro daqueles, quanto mais comprá-lo. Admiro qualquer um que tenha em suas estantes um livro da Martin Claret: digam o que disserem, é uma pessoa de coragem.
Um amigo recomendou o Noites brancas, do Dostoiévski, na versão capa feia. Ainda não saiu pela 34, provavelmente a melhor editora brasileira no momento, que está lançando aos poucos toda a obra do autor traduzida diretamente do russo. Parece que a versão capa feia também é tradução direta. E o preço é bom. A única barreira que falta transpor para comprar o livro é a estética.
1 Comments:
Entrei na Travessa e pedi "quero o Noites Brancas, do Dostoievski, daquela coleção capa feia". O cara nem perguntou nada, me levou direto pro fundo da livraria e entregou o livrinho horroroso.
O pior é que tenho uns 10 dessa coleção e procuro mesmo esconder na estante. Mas decidi colocar ao lado dos da Cosac & Naif (acentos em algum lugar) pra neutralizar.
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