Tuesday, January 25, 2005

Debaixo da Cama

Uma cama larga, simbolizando o país. Sobre a cama, não me pergunte como, um reacionário, simbolizando as classes dominantes, sua mulher frívola e infiel, simbolizando a incosciência nacional, e um doido, simbolizando um doido. Fala o doido:

-Esse ruído...

-Que ruído? Pergunta o reacionário.

-Debaixo da cama.

-Não ouvi ruído nenhum.

-Exatamente. Não é estranho? O jacaré está quieto.

-Que jacaré?

-O jacaré embaixo da cama.

A mulher frívola e infiel dá um grito abafado. O reacionário diz:

-Não há jacaré nenhum embaixo da cama.

O doido faz uma cara de triunfante e pergunta:

-Se não há jacaré embaixo da cama, então o que é que está em silêncio?

A lógica do argumento é inatacável. E, a julgar pelo tamanho do silêncio, o jacaré é enorme.

-Por que será que ele está quieto? – pergunta o reacionário.

-Não sei – diz o doido. – A não ser que ele tenha comido alguém...

A mulher frívola e infiel leva as mãos à boca mas deixa escapar um nome:

- Danilo!

- O quê? – dizem o reacionário e o doido juntos.

- Nada, nada...

Mas ela desaparece sob o lençol para chorar seu amante. Danilo, comido por um jacaré embaixo da cama! E com o pijama novo que ela lhe deu.

- O jacaré deve ter comido o comunista – diz o reacionário.

- Que comunista?

- Tem sempre um comunista debaixo da cama.

- Depois eu é que sou doido...Não tem comunista nenhum debaixo da cama.

- Se o jacaré comeu, não tem mesmo.

-Só há uma maneira de sabermos o que realmente aconteceu – diz o doido, sensatamente. Olharmos debaixo da cama.

Os dois espiam embaixo da cama e vêem um moço de pijama novo, que sorri sem jeito.

O reacionário endireita-se na cama e começa a refletir. Olha para o doido, depois olha para sua mulher que chora. Aos poucos, vai se dando conta da situação.

- Meu Deus! – exclama.

- O quê? – diz o doido, pensando que é com ele.

- O comunista comeu o jacaré!


LFV



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