Tuesday, February 22, 2005

Lacunas

Ainda que eu passe o resto da vida só lendo livros, vendo filmes e ouvindo músicas (o que seria negligenciar de forma imperdoável minha namorada fofinha), muita coisa boa vai me escapar. Algumas eu nem vou saber que existem. Quem mandou ter nascido depois de tanta gente?

Mas meu lado poliana me faz preferir essa situação à alternativa: seria triste viver num mundo em que o estoque de grandes livros/filmes/músicas fosse finito. Sim, claro, o estoque é finito, mas na prática vou ter sempre novas coisas boas para ler/ver/ouvir, o que o torna infinito de um ponto de vista pessoal. O Saud depois esclarece essas coisas. Por mais triste que seja saber que há grandes livros que nunca vou ler, seria pior se não houvesse mais nenhum.

As lacunas desconhecidas talvez sejam as melhores: não angustiam e são uma agradável surpresa quando preenchidas. Sonhos de Bunker Hill ficou anos na minha estante, intocado, aquele tal de John Fante um completo desconhecido (e depois de lido o livro ficou mais alguns anos na minha estante até alguém perdê-lo, né, Laranja?). Conheci o Pulp num programa sobre britpop que passou no Multishow. Tuvalu, meu filme secreto (dá outro post, isso), foi a primeira sessão que vi no Festival do Rio de 2000. Fui pego de surpresa nos 3 casos, e só percebi a lacuna quando ela já estava preenchida.

As lacunas conhecidas são as que causam angústia, mas também tem seu lado bom (ou eu sou poliana demais): servem como um porto seguro, uma obra de qualidade garantida. O dvd de A doce vida está lá em casa há meses, esperando uma visita. Acredito que vou gostar muito do filme, e se Fellini me decepcionar ainda tenho Kazan, Scorsese (sim, Scorsese), Leone, Truffaut. O mesmo vale para Balzac, Dickens e Cervantes, ou Brad Mehldau e Franz Ferdinand. Às vezes meu espírito completista fala mais alto e fico levemente desesperado, mas é raro. Em geral, gosto de saber que tem tanta coisa boa por aí para aproveitar.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eu muitas vezes fico desesperada a ponto de ficar semi-paralisada, sem saber o que ler/ver/ouvir. Ou vai ver é só desculpa de preguiçoso metido a bom entendedor...

12:57 PM  
Blogger Werner Daumier-Smith said...

Sim, o PS disse tudo. Nada mais a declarar.

PS: would you like a drink before the war?

5:36 PM  
Blogger Unknown said...

Saud, não tinha pensado naqueles emails não. E Raquel, não se sinta magoada. É só que a pergunta pareceu merecer uma resposta saúdica. E o rapaz mandou bem, viram?

PS: A tática do Borges é boa, mas exige colhão. Ou, como dizem em Portugal: Tem que ter tomates!

4:18 AM  

Post a Comment

<< Home