Thursday, February 24, 2005

Muito obrigado

A Simone Campos escreveu um post que começava com considerações sobre as formules de politesse usadas em cartas e emails: Atenciosamente, Cordialmente, Prezados, Caros. Era só uma introdução, depois ela saía falando sobre ficar, mas foi o que me deixou curioso. Na hora não pensei muito no assunto. É verdade, ninguém quer dizer nada daquilo, mas todo mundo sabe disso, então ninguém é enganado. No harm, no foul.

Mas acabei de escrever um email que fechei com uma formule bem básica, Muito obrigado pela atenção, e mal o enviei fiquei pensando. Sim, obrigado já tem sentido dicionarizado de agradecido (pelo menos no Houaiss, aquele prostituto linguístico, mas até o Aurélio deve ter cedido nessa). Mas quando a gente pára pra pensar não é estranho? Presumindo que o pessoal do IBGE dará atenção ao meu email, me declaro obrigado por causa desse gesto. Muito obrigado. O que ao pé da letra significa que o pessoal do IBGE pode, desde que me trate com a atenção presumida, exigir algo em troca. Posso imaginar um email de resposta pedindo o pagamento da minha obrigação em euros, ou lavando a roupa do respondedor, ou trazendo-lhe a pessoa amada em 3 dias. Seja lá o que for.

O grande problema é que falamos que nos sentimos obrigados, muito obrigados, mas não dizemos a quê. Às três da manhã, acordo com um telefonema, pensando que alguém da família deve ter morrido; mas é só o funcionário do IBGE que bebeu demais e precisa que eu vá ao bar para dirigir seu carro e levá-lo para casa. E lá vou eu, muito obrigado, muito obrigado mesmo.

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