Roteiro 2 - O retorno
A Raquel escreveu um comentário no post sobre roteiro aí embaixo que reproduzo aqui, tintim por tintim:
Murtim,
Eu tb jah escrevi um roteiro. Ele se chamava Uma vida em chocochips e gracas a Deus, perdi meu HD depois. Devo ter uma copia em papel em algum lugar do meu quarto mas eh uma bosta, o roteiro. Eu o escrevi pra uma aula de Teatro e Comunicacao, cujo trabalho do periodo era fazer ou a programacao visual de uma peca, ou um release, ou um roteiro de uma propaganda, ou um roteiro de um curta, etc. Acho que a ideia da professora - boa, ate - era deixar com que cada um fizesse oque, a principio, sabia fazer melhor. Como eu nao sabia fazer nada daquilo mas gostava de escrever, escolhi o roteiro.
Era uma epoca estranha, a minha. Eu fazia estagio e usava sapatos de bico fino e etc. Era um ET na sala e muito mal vista, obviamente. No inicio, deixei as hostilidades de lado e olhava pra baixo cada vez que um colega de classe me observava com desdem. Mas em 3 aulas eu ja detestava aquele povo e o achava muito, muito burro. E nao achei isso pq o ambiente era hostil. A pura verdade era que eles eram burros mesmo, e tao burros que achavam que o tenis all star deles nao denunciaria essa picaretagem. Imagem...
Enfim, eu me diverti horrores fazendo o roteiro. Nao me lembro, ate hj, de ter tido tanto prazer em fazer um trabalho pra faculdade - mesmo pq, aquele de Estatistica e Tpe era sofriveis, nao> Entreguei o trabalho pra professora mt orgulhosa de mim mesma. Recebi um chato de um 8.0 de volta. Eu me revoltei um pouco por ela ter sido tao cruel e injusta, e ter dado 9.5 pra uns releases bobocas, umas porcarias assim. Ela nao premiou minha audacia e minha coragem. EuU era a garota do sapato de bico fino, pombas! Ela tinha que olhar em volta e ver o bando de idiotas que ele estava cultivando. Fiquei meio triste no 1o dia e, no final, tb odiava a professora. Ela disse que `Faltava acao` que qdo ela leu `parecia coisa estilo Amelie poulain`. Foi ate um elogio essa critica mas eu a odiei mesmo assim. Depois disso, nunca mais escrevi um roteiro, nem escrevi nada.
Nao sei pq dei essa volta toda...Acho que queria contar uma historia. Bem, pra esse troco, tive que ler um livrinho de como escrever um roteiro e conviver com essa linguagem desidratada. (otimo adjetivo!) Era chato mesmo ter que parar e descrever as cenas assim, fria e secamente, e interromper a imaginacao e escrever os nomes em maiscula, o lugar, o dia, a hora do dia, tudo isso. Depois pensei que esse era o trabalho de um roteirista e que ele devia deixar td essa coisa vida ai que vc falou pro safado do diretor. Se ele for mt safado, vai escolher exatamente o quao ereto estava Jose. Se o Jose for um ator malandrinho - melhor, se o ator que faz Jose for malandrinho - vai dar uma outra cara pra coluna do Jose tb. Sei la, um bom roteirista eh o cara que nao liga pra isso ou nenhum roteirista que se preze ve o filme que usou seu roteiro> Fiquei com mta pena dos roteiristas do mundo agora, eh uma vida meio sofrida. Acho q estou influenciada pelo Bandini...
O mais importante primeiro: um blog, Raquel, urgentemente. Pode ser como co-autora lá no fase, ou aqui se você sentir muita pressão escrevendo num blog que realmente importa; acho até, embora você tenha que perguntar pra noiva, que pode ser lá no sombreiro. Comentadores de praxe, por favor, apóiem esta campanha.
Sobre o comentário, o que eu queria comentar de volta é Depois pensei que esse era o trabalho de um roteirista e que ele devia deixar td essa coisa vida ai que vc falou pro safado do diretor. Concordo enfaticamente: roteirista, assim como diretor de fotografia ou figurinista ou 2nd unit director, é um técnico. O roteiro é um manual pra fazer um determinado filme, e por isso sua linguagem é tão fria quanto a de um manual, digamos, de televisão ou microondas.
É por isso que não entendo muito bem qual é o raciocínio por trás da escolha do melhor roteiro em premiações cinematográficas. Um bom roteiro é aquele que facilita a feitura de um bom filme: a menos que o roteiro seja lido, desconfio que as pessoas simplesmente premiam aqueles filmes que não apenas são bons, mas que parecem ser tranquilamente bons, filmes em que o esforço para se fazer um bom filme não está explícito. Um diretor deveria exultar duplamente caso seu filme ganhasse um prêmio de roteiro.
É por isso que os roteiros do Charlie Kaufman são bem menos bons do que muita gente pensa: Kaufman é um roteirista tão autoral que seus roteiros devem ser lindos no papel, mas esmagam o diretor no filme (o único que conseguiu passar por cima de Kaufman até agora foi, ora vejam só, George Clooney, diretor de Confissões de uma mente perigosa). Também por isso Billy Wilder não é essa coca-cola toda, porque ele colocava o Izzy Diamond para verificar a cada cena se os atores estavam dizendo as falas exatamente como eles as tinham escrito. Imagino que ler um filme do Billy Wilder deva ser muito divertido, mas ver não é tão bom assim.
Meu chilique contra a "linguagem desidratada" só faz um mínimo de sentido porque sou um desses jovens românticos com pretensões autorais. Se um dia esse roteiro for terminado e se transformar num filme, espero que eu consiga calar a boca e deixar o diretor fazer o seu trabalho, que é ser o artista do filme.
3 Comments:
Ah, eu adoraria que a Raquel passasse a escrever lá meu blog defunto... Tá na hora dela se render à evidência de que se ela escreve como se tivesse um blog, pensa como se tivesse um blog, ela precisa de um blog, ora bolas!
Sim, um blog para a menina, pombas!
BLOG PARA A RAQUEL JÁ!!!!!!!!!!!
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