Monday, March 28, 2005

Blog moribundo continuará vivendo

Numa decisão polêmica, por 5 votos a 4, a Suprema Corte determinou que não seja retirado o tubo de alimentação do blog Fêmea de Cupim, que desde o começo do mês se encontra em estado vegetativo. O resultado da batalha jurídica foi festejado por milhares de manifestantes que faziam vigília diante do Palácio da Justiça Virtual.

Emocionado com a decisão, Lucas Murtinho, um dos pais do blog, comemorou: "Eu sabia que os juízes levariam em consideração o valor deste blog para mim. Sei que muitos podem me achar maluco, mas aqueles que têm blog sabem que ele nunca deixa de ser parte de você. E eu sei que ele ainda está alerta, que seus posts respondem a estímulos externos, que suas caixas de comentários escutam tudo o que digo." Diogo Laranja, o pai ausente do blog, não foi encontrado pela reportagem.

Houve também protestos de manifestantes contrários à decisão da corte. "É um absurdo prolongar a existência artificial deste blog, que para ser sincero nem era tão bom assim quando tinha pleno controle de suas capacidades mentais", disse Brian Spelderling, professor de Bioética em Cambridge. "Não se pode falar de sofrimento, pois é óbvio que o blog a esta altura não consegue sentir nada, mas será que ele gostaria de viver assim, se tivesse escolha?"

Representantes da organização Basta de Blogs Moribundos, que fez o pedido de retirada do tubo de alimentação, ainda não se deram por vencidos. "Faremos um apelo ao governador do Estado", declarou John Stopkins, presidente da BBM. "Cabe a ele tomar o assunto em mãos, chamar a polícia, invadir o hospital e dar um tiro nos cornos desse blog desgraçado."

Friday, March 04, 2005

Mundo estranho

Para escrever o post abaixo fiz algumas pesquisas no Google. Quando procurei Everlasting Gobstopper, a primeira resposta foi essa aqui.

Willie Wonka and the chocolate factory - a theory

Lá no Fase o Tija já declarou a nova versão de A fantástica fábrica de chocolates o melhor filme do ano. Para esquentar os motores, segue uma interpretação do original, talvez - ou melhor, para não decepcionar o Saud: certamente o melhor filme infantil de todos os tempos.

Não é novidade pra ninguém que o concurso dos cinco cupons dourados era uma farsa: como Mr. Wilkenson, aka Arthur Slugworth, poderia estar sempre presente quando uma criança encontrasse o bilhete? Como Wilkenson era empregado de Wonka, é bem provável que ele mesmo cuidasse para que as crianças visadas encontrassem o cupom. O caso de Charlie é um pouco mais complicado, já que ele compra a barra de chocolate com o prêmio quase por acaso; uma possível conclusão é que o dono da loja de doces também é empregado de Wonka, ou no mínimo foi terceirizado por Wilkenson.

Mas a pergunta realmente interessante é: se Wonka escolheu ele mesmo as crianças, porque escolher tantas crianças insuportáveis? Meu laod poliana se recusa a aceitar a sombria hipótese de que as outras quatro seriam de fato as melhores opções, depois de Charlie, para herdar a fábrica de chocolates Wonka. Talvez Augustus Gloop, que afinal de contas era só um menino guloso, desse conta do recado, mas não é possível achar que não existisse nenhuma criança melhor do que Veruca Salt. Por que permitir que aquele bando entrasse na fantástica fábrica de chocolates?

Para atormentá-las, é claro. Wonka mostra um rio de chocolate para um guloso, um chiclete-refeição para uma tarada por chicletes, uma televisão ultramoderna para um fanático por televisão e - bom, qualquer coisa para Veruca. A fábrica de Wonka deve ter muitas outras atrações, mas ele exibe justamente as que provocam as crianças escolhidas. Seu objetivo é fazê-las sofrer.

Willie Wonka certamente é um sádico, mas esse não é o único motivo para atormentar aquelas crianças; se fosse, em vez de Charlie ele teria levado outra criança mal educada para dentro da fábrica. O motivo, na verdade, é Charlie. Desde o começo Wonka estabeleceu que Charlie será seu herdeiro, mas para isso é preciso passar por um teste: será Charlie capaz de maltratar os outros? Por enquanto Wonka não pede isso do garoto, mas ele quer ver se Charlie pode ao menos se divertir assisitindo a maus tratos provocados por outrem. Charlie passa com louvor na prova.

Uma idéia um pouco diferente é que Wonka não está de forma alguma testando Charlie, e sim começando a lhe ensinar como virar mestre da fábrica de chocolates. É um pouco como a história de Harry Potter, ops, Tim Hunter em The books of magic: se mostram tudo aquilo ao garoto é porque ele já não tem escolha, ou melhor, já escolheu. No momento em que Charlie põe os pés na fábrica, já está determinado que ele será o herdeiro de Wonka. O que vemos a seguir é sua primeira aula.

E é claro que tudo tem a ver com os Oompa Loompas. Acho que foi o Saud que citou (ou criou? Manifeste-se aí, rapaz) a teoria de que os Oompa Loompas só aceitavam trabalhar para Willie Wonka porque a única base de comparação que tinham era seu antigo país, cheio de monstros horríveis com nomes estranhos. Oompa Loompas de segunda geração, a teoria prossegue, certamente se rebelariam e fugiriam da fábrica para o mundo real. Mas é ingênuo pensar que Wonka não sabe disso tão bem qaunto nós. O cara é um gênio. Não o vejo lendo Maquiavel, mas ele deve saber instintivamente a lição maquiavélica: é melhor ser temido do que ser amado. A vida dos Oompa Loompas na fábrica deve ser regida por sua mão de ferro. De fato, nada impede que os Oompa Loompa que vemos já sejam de uma geração nascida na fábrica, que vê Wonka não como um salvador e sim como um tirano.

É por isso que Wonka precisa de um herdeiro acostumado às vilanias: para manter os Oompa Loompas no seu lugar, evitar rebeliões e garantir a continuidade da excelência da fábrica. Charlie é a criança perfeita para o trabalho.

Outra teoria forte, e que de forma alguma desautoriza esta, é que Wonka é o pai de Charlie. Mas fica pra outra vez.